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De Cacá Diegues a Stanley Kubrick, conheça longas que marcaram a vida de René Sampaio, diretor de Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo

Responsável por comerciais e filmes premiados dentro e fora do país, cineasta e produtor brasiliense é sócio-fundador da Barry Company

 

René Sampaio, 46, aguarda ansiosamente pela estreia de Eduardo e Mônica em salas de cinema do Brasil. Com première adiada pela pandemia, o longa (adaptação cinematográfica da canção da Legião Urbana) por enquanto chegou à tela grande apenas em duas ocasiões, em 2020: nos Estados Unidos (37º Miami Film Festival) e posteriormente no Canadá (34º Edmonton Film Festival) – deste último, saiu laureado como melhor filme internacional

“Não quisemos exibir [Eduardo e Mônica] em festivais online com medo de acabar acontecendo alguma forma de pirataria. É uma obra feita para se ver junto com outras pessoas (…) e ter aquela catarse coletiva”, o diretor justificou em entrevista a O Globo

A decisão, ao que tudo indica, faz sentido. 

Promovido em 2013, Faroeste Caboclo (título inaugural da trilogia baseada em composições de Renato Russo) chamou atenção da audiência mesmo antes do lançamento. O trailer alcançou mais de 1,5 milhão de visualizações nas 48 horas iniciais de publicação no YouTube. A obra, por sua vez, ultrapassou 500 mil espectadores apenas no primeiro fim de semana de cartaz – até aquele ano, 6ª melhor posição desde a “retomada do cinema nacional”, momento marcado pela Lei do Audiovisual, em 1995.

“As músicas da Legião são atemporais, e ‘Eduardo e Mônica’, em especial, tem muita chance de atingir as novas gerações”, Sampaio afirmou ao jornal. 

 

Do cineasta Cacá Diegues, Bye Bye Brasil despertou em René Sampaio o desejo de trabalhar com cinema. Foto: Divulgação.

 

Vida em películas

Influenciado pelo pai, Sampaio (que se formou em Jornalismo e Publicidade pela Universidade de Brasília) começou a frequentar as salas na infância. “Ele me apresentou o cinema e minha mãe, a música”, o diretor compartilhou à Veja São Paulo

Em casa, o brasiliense tinha a tarefa de gravar clássicos que passavam na TV, de diretores como os americanos John Huston (O Homem que Queria Ser Rei, O Céu por Testemunha) e Franklin J. Schaffner (Papillon), e o tcheco Vojtěch Jasný (Um Dia, Um Gato). 

“Não dá para dizer exatamente qual foi a importância de ver cinema desde criança. Eu leio e escuto música desde moleque e nem por isso virei escritor ou músico”, sinalizou à revista. 

Sem apego a outros diretores – “eu escolho um filme pelo filme” –, Sampaio destaca Clint Eastwood, Robert Altman, Stanley Kubrick e Woody Allen, todos os Estados Unidos, entre os nomes que mais assistiu até hoje. Entre os contemporâneos, acompanha a carreira do dinamarquês Lars von Trier. 

 

Lançado na década de 50 e estrelado por Kirk Douglas, Glória Feita de Sangue é um clássico anti-guerra de Stanley Kubrick, diretor e roteirista de referência para Sampaio. Foto: Divulgação.

 

No Brasil, Sampaio aponta o maceioense Cacá Diegues e o paulistano Fernando Meirelles entre os cineastas que mais o empolgam. “Como fiz curtas, conheço e gosto do trabalho de Kleber Mendonça Filho (Recife), Eduardo Nunes (Niterói), Gustavo Spolidoro (Porto Alegre)”, fez questão de destacar. “Também é muito consistente a filmografia do Fernando Coimbra, de O Lobo Atrás da Porta.”

A seguir, estão cinco títulos que compreendem memórias afetivas e referências do sócio-fundador da Barry Company – uma das principais empresas do audiovisual do país. 

 

  1. Bye Bye Brasil, Cacá Diegues

Com José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior no elenco, o longa completou 40 anos em 2020. “Dedicado ao povo do século 21”, Bye Bye Brasil certifica uma era de inquietações. “O cinema não pode ser uma reflexão olímpica sobre a realidade, ele precisa ser um dos reflexos dela”, declarou Diegues naquela época, em um texto para o Jornal do Brasil. Indicada à Palma de Ouro do Festival de Cannes, a comédia ácida retrata as aventuras da Caravana Rolidei em uma viagem que cruza a Amazônia pela rodovia BR-230 (Transamazônica) – até alcançar Altamira (PA). No Festival de Havana, Bye Bye Brasil levou os prêmios de Melhor Diretor e Coral Especial de Gênero de Ficção. “Eu vi na TV e percebi que, ali, havia, sim, a possibilidade de fazer um filme bom e no Brasil”, Sampaio comentou à Vejinha

 

  1. Brazil: o Filme, Terry Gilliam

O arcaico e o moderno se cruzam neste filme do diretor de Monty Python. Promovido em 1985 como uma peça sobre realidade distópica, Brazil recebeu duas indicações ao Oscar (melhor roteiro e direção de arte) e faturou um par de BAFTA nas categorias efeitos visuais e desenho de produção. Protagonizada por Jonathan Pryce e estrelada por nomes como Robert De Niro e Michael Palin, a comédia de absurdos (apresentada como ficção científica) do inglês Terry Gilliam parte do escapismo da música-tema “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, para retratar uma sociedade que, dominada por máquinas, se afunda em alienação e ilusões – referência à ineficiência de regimes autoritários e vigilantes.

 

Brazil (em destaque) e 12 Macacos, do inglês Terry Gilliam, estão entre os filmes favoritos do diretor de Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo. Foto: Divulgação.

 

  1. Cidade de Deus, Fernando Meirelles

A obra completa 20 anos em 2022 e permanece como um dos títulos brasileiros mais premiados mundialmente. Codirigido por Katia Lund, igualmente nascida em São Paulo, Cidade de Deus aborda o avanço do crime organizado nesta favela com uma população estimada em 38 mil habitantes, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro. Indicado ao Oscar em quatro categorias (melhor diretor, roteiro adaptado, edição e fotografia), e concorrente ao Globo de Ouro e BAFTA de melhor filme estrangeiro, o longa é baseado no livro homônimo de Paulo Lins e tem roteiro adaptado de Bráulio Mantovani. Impulsionado por personagens memoráveis, o filme é contado sob perspectiva de Buscapé (Alexandre Rodrigues), que narra o destino de figuras como Zé Pequeno (Leandro Firmino), Bené (Phellipe Haagensen), Sandro Cenoura (Matheus Nachtergaele), Mané Galinha (Seu Jorge) e Cabeleira (Jonathan Haagensen).

 

  1. Os Saltimbancos Trabalhões, J. B. Tanko

Chico Buarque adaptou para o português o famoso musical infantil que orienta este longa dirigido pelo croata J. B. Tanko, radicado no Brasil – Os Saltimbancos, dos italianos de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov (título, por sua vez, inspirado pelo conto Os Músicos de Bremen, da dupla alemã Irmãos Grimm). Divulgada em 1981, a comédia é liderada pela célebre trupe Os Trapalhões – Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. “Como era moleque, achei o filme muito colorido e conseguia cantar as músicas”, Sampaio relatou sobre sua primeira experiência com o cinema. Na história, os Trapalhões vão de contrarregras à principais atrações do Grand Circo Bartholo, enquanto tentam escapar da ganância do dono da arena. 

 

  1. Glória Feita de Sangue, Stanley Kubrick

Este longa de 1957 é um dos favoritos de Sampaio – que vê no aclamado Stanley Kubrick um dos grandes cineastas de todos os tempos. Além de dirigir, o americano é coautor do roteiro adaptado de Glória Feita de Sangue, que toma emprestada a novela anti-guerra de mesmo nome, lançada em 1935 pelo italiano Humphrey Cobb. Na obra, situada na Primeira Guerra Mundial, o americano Kirk Douglas interpreta Coronel Dax, comandante dos soldados franceses que se recusam a ir em frente com um ataque suicida. Filmado em Baviera, na Alemanha, Glória Feita de Sangue perdeu o BAFTA de melhor filme, mas ganhou o prestigiado Grand Prix, da Associação Belga de Críticos de Cinema. A trilha de tambores militares é creditada ao cultuado compositor Gerald Fried.