Trilogia inspirada por composições de Renato Russo já conta com ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Faroeste Caboclo’, títulos ambientados na capital federal
Na terceira cidade mais populosa do país (a maior construída no mundo no século 20), sede dos três poderes da República, o cineasta e diretor de TV e comerciais René Sampaio, 46, deu os primeiros passos para uma trajetória de sucesso no cinema nacional.
Eduardo e Mônica, longa premiado na 34ª edição do canadense Edmonton Internacional Film Festival (EIFF), evento que antecipa indicações ao Oscar, traduz para as telas o relacionamento amoroso entre os carismáticos personagens da canção de Renato Russo e a visceral presença de Brasília (capital fundada em 1960) na condução do romance.
Segundo título da trilogia baseada em composições do vocalista e principal letrista da banda Legião Urbana, Eduardo (Gabriel Leone) e Mônica (Alice Braga) apresenta diversas localidades que remontam à juventude de Sampaio – o Parque da Cidade, o Congresso Nacional, a piscina do antigo DEFER (no parque aquático da Universidade de Brasília, onde o diretor se graduou em Jornalismo e Publicidade) e a superquadra 308 sul são alguns exemplos.
“Fazer este filme foi um grande reencontro comigo mesmo na minha cidade”, o cineasta contou em entrevista ao Correio Braziliense. “Tenho uma relação com Brasília que nunca foi cortada.”
Sampaio, que nasceu e cresceu na capital federal, atualmente vive no Rio de Janeiro.
Inédito em salas
Sem data para ser distribuído no país, Eduardo e Mônica teve exibição no 38º Miami Film Festival (EUA) e EIFF no começo de 2020. A pandemia de coronavírus, declarada em março pela Organização Mundial da Saúde, adiou tanto a turnê no exterior (o longa já tinha sido convidado a participar de outros 15 festivais) quanto o lançamento no Brasil, originalmente marcado para junho.
Eduardo e Mônica (que conta, ainda, com imagens do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no Planalto Central, e do Rio) pertence ao catálogo da Barry Company, da qual Sampaio (Leão de Prata em Cannes, em 2005) é sócio.
Por enquanto, diretor e produtora preferem esperar a reabertura das salas para mostrar a esperada obra ao público. “É um filme para ser celebrado como um show, um evento. Queremos que as pessoas possam ir com amigos, com a família, com a namorada ou namorado”, Sampaio disse à agência de notícias do Centro Universitário de Brasília.
Louros
Primeiro longa-metragem de Sampaio (que colecionava estatuetas dos festivais de Brasília, Gramado e Recife com o curta Sinistro), Faroeste Caboclo (2013) saiu do 13º Grande Prêmio Brasileiro de Cinema (organizado pela Academia Brasileira de Cinema) como principal vencedor. Ganhou em 7 categorias: filme de ficção, ator, direção de fotografia, roteiro adaptado, montagem, som e trilha original.
No Texas (EUA), o júri do 8º Dallas International Film Festival condecorou Sampaio com o troféu de melhor diretor.
Bangue-bangue
Fabrício Boliveira encarna João de Santo Cristo neste western brasileiro, quase todo rodado no Distrito Federal e Entorno – as exceções ficam para as cenas gravadas em Pau Ferro (sertão de Pernambuco) e no Pólo de Cinema de Paulínia (interior de São Paulo).
O papel de Maria Lúcia cabe a Ísis Valverde.
“Tentei tirar proveito de tudo o que conheço da cidade, tanto na hora de conceber a história quanto durante as filmagens”, Sampaio contou à Folha de S.Paulo.
A trama foge aos cartões-postais do DF e vai de encontro à pobreza e violência de regiões como a Ceilândia da virada dos anos 70 para os 80 – modificada pelo tempo, a área (hoje com quase meio milhão de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) precisou ser recriada para Faroeste Caboclo.
“Tenho uma visão de quem cresceu e morou em Brasília a maior parte da vida. Conheço as características das pessoas, as emoções. E tudo isso me inspira”, Sampaio declarou ao Jornal de Brasília.
Manifesto político
Único filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini também atua em Faroeste Caboclo. O roteiro é de Marcos Bernstein e Victor Atherino, com consultoria de Paulo Lins, autor de Cidade de Deus.
Aclamado pela crítica, o filme aborda – ao pé da letra – a densa e politizada composição de mais de 9 minutos e 160 versos que, tal qual “Eduardo e Mônica”, se transformou em hino juvenil na década de 80.
“[Faroste Caboclo] É verossímil, extremamente fiel, mas ao mesmo tempo autônomo, tem vida própria. Meu pai com certeza teria adorado“, afirmou Manfredini ao portal UOL Entretenimento na première do longa em São Paulo. A morte do ícone completa 25 anos em outubro de 2021.